Na discussão pós filme tive que concordar que existe um certo exagero na hora de retratar a imagem que os bolivianos mantém do guerrilheiro. É feito um recorte muito específico de uma região pequena e muito pobre que acredita que Che pode até fazer milagres. E, claro, isso não representa a opinião população como um todo. Mas é, também, a parte mais impressionante e chocante do documentário e talvez por isso mesmo tenham se estendido nessa parte. Eu teria!
Algumas pessoas rezam para Che, o colocam no altar, suplicam a ele e relatam as maiores barbaridades e fantasias de passagens de sua vida. Como um ex-quase-coroinha não pude deixar de fazer relação direta com o maior mito da nossa história. O filme também não deixa de fazer. A relação Jesus Cristo – Che Guevara é abordada a todo instante. Sempre me perguntei como tantas impossibilidades, tantas histórias fantasiosas sem nenhuma provinha sequer fazem tanto sucesso. Movimenta tantas pessoas e por conseqüência tanto dinheiro, energia, mentes! Tudo baseado em um livro apenas. Personal Che me ajudou a entender como a coisa se deu.
Ou pelo menos como eu imagino que tenha se dado. Che Guevara com um pouco mais de ambição e se tivesse nascido em outra época, quem sabe, poderia ser o novo Jesus Cristo. Que a Igreja Católica precisa dar uma renovada na sua cara ninguém pode negar. Mas enfim, não importa muito o que alguém tenha feito em vida. Como muito bem disse Oliviero Toscani no filme, a foto se torna muito mais real do que a própria realidade. E quanto menos informação disseminada, quanto menos esclarecidas as pessoas forem sobre o que é real muito mais fácil espalhar a foto por aí. E mesmo sem Photoshop , desde os tempos de Maria Madalena, a imagem já era milimetricamente manipulada. Sem celulite, machas ou gordurinhas a mais. Na medida para vender muito! A morte precoce e provocada pelo inimigo é parte da receita. Ingrediente essencial, senão desanda e embola a receita. Mas o pulo do gato mesmo que projetou Jesus e não Che, na minha opinião, foi a ambição dos que ficaram. Os Bill Gates de antigamente, Eike Batistas de Jerusalém, homens de visão como poucos a humanidade já teve. Calcados nos mais modernos conceitos de negócio, identificaram a oportunidade, analisaram o mercado, público-alvo, buscaram sócios influentes e voilá! Abocanharam um nicho que estava carente. Desenvolveram um dos negócios mais lucrativos já vistos. Para os aliados de Che seria mais difícil manter a fantasia na mesma proporção que a de Jesus. A informação, hoje em dia, corre solta por aí, não é mesmo?! Mas ainda acho que com uma boa inovada, retoques no que ficou, quem sabe? Nenhum mercado some assim. Só muda de mão.
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A musa
