A risada

Engana-se quem acredita que a risada é uma demonstração de alegria, felicidade.

Quando rimos, estamos, na verdade, nervosos, tensos, desconfortáveis, mas tentando disfarçar tudo isso. E o volume e escândalo do riso são diretamente proporcionais ao nível de desequilíbrio da pessoa que o profere.

Pensa nas situações que você ri. Não é sorri, é ri, risada, gargalhada. Tem aquela comédia escrachada que fala sobre a família ou situações de trabalho. A comédia inteligente, sutil que insinua as loucuras dos relacionamentos ou as ironias da vida. Humor negro que fala das atrocidades que se comete por aí. Piadas mais ou menos bobas, de Joãozinho, Mariazinha, Juquinha. Tirinhas da Mafalda, Garfield ou Hagar. Chaves, Chapolin, Charles Chaplin. Tombo dos outros. Enfim, o que interessa é que quanto mais você se vê naquela situação mais engraçada você vai achá-la. Se o comediante retrata ali aquela situação ridícula que você passou outro dia, por que rir? Você sabe que é ridícula, você passou por aquilo, mas ainda sim está lá, rindo sem parar. E sem papinho de "Eu tenho bom humor, sei rir de mim mesmo!". Repara só: quanto menos intimidade você tiver com alguém, mais alto ela vai rir da sua piada.

Está mesmo é sem graça. Fica tenso. E para desviar a atenção, inclusive a sua, desse fato, você ri. Nós rimos. Ele riem. Vós ríeis.

Considere as manifestações físicas da risada. Quanto mais você ri, mais se contrai. Quanto mais você fica tenso mais se contrai. Tá, até aí você pode dizer que qualquer espirro é sinal de tensão, já que também se contrai. A gargalhada alta, a risada barulhenta se assemelham a uma manifestação de histeria, quase um grito socorro. Tem gente que começa rindo. E aí assim, com uma facilidade tremenda, como se não tivesse nada separando os dois sentimentos, vai para o choro. Os dois altos, barulhentos, carentes.

E as pessoas que têm acessos de riso em situações tensas? Riem em funeral, riem antes de uma prova, riem diante de alguém com autoridade. Parecem hienas nervosas prontas para serem devoradas pela situação. Chegam a fazer careta ao rir. Alegria, felicidade? Sei não...

A risada é, na verdade, um ato desesperado de externar a angústia que se está sentindo. É justo, válido e necessário para muita gente. Mas, cá para nós, eu não confio muito em gente que ri muito e alto.

Prefiro a beleza de um bom e sereno sorriso. Este sim, sincero, sem necessidade de se mostrar, de chamar a atenção do outro para nada. Nem da sua carência, nem do seu desespero. E o sorriso tem sim sua graduação. Tem o de canto de boca, o sorriso de orelha a orelha, o que mostra todos os dentes. Estes sim, felizes e alegres.

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